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Apoio Psicológico aos Profissionais da Saúde na Crise do COVID-19

Olá!

Este é o roteiro do primeiro vídeo de conteúdo do Canal “Temas que Surgem” no YouTube: https://www.youtube.com/channel/UC4qNzbyUwTKwg1lFrJ8TcCw?view_as=subscriber

Link para o vídeo: https://youtu.be/uqjSWphDJkM

Você também pode acompanhar a Torres Psicologia, patrocinadora do canal, no Facebook ( https://www.facebook.com/torresclinicadepsicologia/ ) ou no Instagram ( @torrespsicologiacrp066879j ).

André Torres

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APOIO PSICOLÓGICOS AOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE NA CRISE DO COVID-19

André Roberto Ribeiro Torres

Olá, pessoal! Como é que vocês estão? Tudo bem? Espero que sim.

Meu nome é André Torres e, atendendo aos pedidos nos comentários dos vídeos anteriores, achei melhor falar sobre o tema mais urgente: ajudar os profissionais da saúde e outros trabalhadores a lidar com a preocupação e a ansiedade durante o momento difícil que estamos passando no enfrentamento da crise sanitária do COVID-19.

Agradeço minha amiga Juliana Barbosa pelo pedido.

Tentei unir um pouco de outros temas sugeridos, como a ansiedade, por exemplo, e, por isso, pode ser que essas dicas possam ajudar quem está precisando trabalhar em outras áreas que não sejam da saúde mas que também estão sujeitos à contaminação: recepcionistas, motoristas, entregadores, trabalhadores de serviços essenciais.

 

Quem está na linha de frente vive uma série de emoções e inseguranças.

Eu já fui linha de frente na Assistência Social e colecionava situações difíceis de lidar, situações que jamais seriam previstas por livros.

A experiência é soberana, principalmente nas situações-limite.

 

Primeiramente, vamos pensar um pouco sobre a definição de ansiedade.

De forma geral, a Psicologia entende que ela é um estado estressante que visa antecipar um perigo.

Uma de suas características é o afunilamento da atenção, que até pode ajudar pontualmente na resolução de uma situação mas que traz muitos prejuízos ao se prolongar mais que o necessário.

Fazendo uma reflexão sobre esse conteúdo, penso duas coisas:

1) Se a atenção afunila, ela provoca um foco bastante definido em determinado tema ou objeto; porém, nem sempre o foco no qual fixamos a atenção é o foco no qual a gente deveria estar atento.

Por exemplo, posso estar diante de um paciente mas o foco da minha atenção sob a ação da ansiedade está na preocupação com minha família.

Isso pode fazer com que o meu atendimento perca em qualidade e atenção.

Não por mal mas justamente por causas dos limites da minha condição psicológica.

Sim, nós temos limites e esse é um ponto muito importante de ser compreendido nesse momento.

2) Meu segundo pensamento é que essas situações não são pontuais.

As situações estressantes vão se seguindo uma atrás da outra.

Nem tive tempo de lidar com um evento estressante e a ansiedade dele e já me vem outro.

Então a ansiedade não só se prolonga como se transforma num contínuo, numa normalização do funcionamento estressado, acelerado.

 

Antes de dar algumas sugestões para lidar com isso eu quero agradecer outra amiga, a Lívia de Paula, por ter me indicado o trabalho da Psicóloga Débora Noal, que tem muita experiência em emergências em diversos países.

Numa entrevista recente ela também fala sobre o COVID-19 e as considerações que ela fez sobre os profissionais da saúde são muito parecidas com o que eu vinha pensando para fazer esse vídeo.

Os relatos que vêm sendo ouvidos por ela dos profissionais da saúde são principalmente sobre:

* ansiedade extrema

* Medo

* Desconforto

* Tristeza

* Sensação de ser rotulado como alguém que transmite a doença

* Até medo de sofrer violência na rua por causa desse estigma

Ela considera que, numa situação como essa, é mais importante auxiliar os profissionais da saúde na autogestão da ansiedade do que orientá-los a procurar ajuda especializada.

É claro que isso não elimina o trabalho da psicoterapia, mas o trabalhador da saúde vai precisar lidar com a ansiedade muito mais vezes do que ter um auxílio direto de um profissional da saúde mental.

E é sobre essas dicas que eu quero falar, principalmente relacionadas à ansiedade extrema, que acredito ser o problema mais frequente dentro das situações profissionais.

Eu peguei um pouco das orientações que ela dá e acrescentei algumas reflexões próprias voltadas para esses profissionais.

Vamos lá:

 

1) Autopercepção

A primeira coisa importante a ser feita é perceber a própria ansiedade.

É muito difícil mas muito desejável que a gente se perceba nas situações que estamos vivendo.

Não só resolvendo os problemas que aparecem mas também olhando para como estamos lidando com eles.

Prestar atenção em como está meu corpo, minha respiração, se estou agitado, se estou inquieto, como estou me sentindo, quais são as minhas necessidades nesse momento.

Ainda que eu não consiga atender as minhas necessidades, justamente por estar cuidando do outro, é importante que eu saiba quais são elas.

Dessa forma, eu evito misturar as minhas necessidades com as necessidades do outro.

Se possível, posso tentar atender essas necessidades mais tarde, depois do trabalho.

Quando estou ansioso e tenho pressa de terminar logo as coisas, fico fisicamente desastrado: derrubo coisas, trombo, tropeço, falo o que não devo, me irrito com facilidade… é um desastre.

Dessa forma, a ansiedade se torna até perigosa dependendo do procedimento que está sendo realizado.

Fazer as coisas de forma rápida não significa fazer com pressa.

Uma é sinal de prática e experiência, a outra é sinal de afobação.

Quando eu percebo que estou ansioso, tenho a possibilidade de lidar com essa ansiedade.

Sem essa consciência é muito mais difícil.

 

2) Foco no protocolo

Aproveitando aquela característica da ansiedade de afunilamento da atenção, vamos tentar nos utilizar um pouco disso e voltar a atenção para o protocolo.

O protocolo pode ser uma forma de conseguir ter mais segurança, apoio, cuidado ou até de ajudar a manter o foco.

Às vezes, alguns pensamentos nos distraem, tentar puxar a atenção e pode ser que, em algum momento, eles precisem ser desgastados até que seja possível recobrar a atenção novamente.

Como fazer isso? Deixar esses pensamentos passarem sem tentar se apegar a eles até que eles diminuam ou até parem de vir.

Dessa forma, é possível retomar o foco nos procedimentos com mais qualidade na ação.

 

3) Clareza em equipe

Quanto mais clareza e diálogo aberto houver entre os membros da equipe e da equipe com os gestores e os pacientes, melhor.

A clareza reduz a ansiedade, proporciona a possibilidade de acordos, regras e de promover a tranquilidade através da sensação de que as pessoas estão sendo ouvidas e atendidas.

Claro que isso não significa parar tudo para fazer longas reuniões, isso nem é possível.

Mas o simples fato de mostrar abertura para ouvir o que as pessoas querem dizer ou estão precisando já faz muita diferença.

O que não ajuda em equipe:

* Procurar um culpado

* Buscar punir o outro por discordância

* Justificar possíveis equívocos em vez de assumir a responsabilidade

 

4) Uma dica mais geral, não específica para a área da saúde é que a ansiedade geralmente aparece quando há muita agitação e sobrecarga, principalmente quando não temos clareza do que nos incomoda.

Quando falamos de um vírus que é invisível a olho nu, é bastante provável que isso estimule a ansiedade e nos deixe confusos sobre o que fazer.

Uma dica é tentar imaginar, criar uma possível visualização de onde poderia haver o vírus.

Eu tento imaginar uma névoa roxa perto da minhas respiração e a das pessoas, no caminho por onde elas passaram, onde encostaram as mãos, onde tossiram etc.

 

5) Sei que é irônico a gente falar em respiração, visto que é justamente uma das vias de contágio do vírus mas, se você estiver em um ambiente seguro, pode procurar respirar profundamente para abaixar um pouco o ritmo da agitação física e dos pensamentos.

Se quiser complementar, pesquisa alguma técnica de respiração para praticar quando precisar.

 

6) O que os outros dizem sobre nós com certeza nos afeta.

Porém, por mais bem intencionados que a gente esteja, não temos como controlar o que as pessoas pensam sobre nós e nem sobre ninguém.

Quantas vezes me vi mal interpretado quando tentava ajudar ou apoiar alguém.

Nós temos responsabilidade sobre nossas próprias emoções, pensamentos e atitudes, não sobre o julgamento dos outros sobre nós.

Libertar-se dessa responsabilidade é muito importante para a nossa saúde mental.

 

7) Assim como não controlamos o que os outros pensam, também precisamos aceitar o fato de que nosso controle tem limites.

Por mais que eu me dedique e exerça minha função de forma exemplar, não vou conseguir resolver todos os casos e todos os problemas, não vou salvar todas as vidas.

Ainda que eu tenha uma sensação de impotência, a aceitação dessa impotência e dessa tristeza é uma conexão importante com a realidade e com a vida sem idealizações e falsas esperanças.

Porém, nem sempre a gente se dá conta do quanto ajuda as pessoas simplesmente por cumprir nossas funções.

Se conseguirmos nos lembrar disso nos momentos difíceis, podemos criar forças para continuar.

Posso não vencer todas mas posso tentar promover a dignidade humana ao máximo que me for possível.

 

Retomando e resumindo o conteúdo, lembre-se:

  • Autopercepção: como estou me sentindo, como está meu corpo?
  • Foco no protocolo: buscar segurança no meu treinamento e na minha experiência.
  • Clareza em equipe: conversar da forma mais objetiva e aberto possível, evitando julgamentos.
  • Tentar visualizar o rastro do vírus: a imagem me ajuda a me prevenir.
  • Respirar profundamente para relaxar em um ambiente seguro.
  • Se eu não controlo o que os outros podem pensar sobre mim, vou me concentrar no meu próprio trabalho.
  • Vou tentar fazer o meu melhor possível mas sou limitado e não vou conseguir resolver todas as situações, é isso que me faz humano e é isso que me faz precisar do outro, assim como o outro precisa de mim.

 

Espero que, de alguma forma, esse conteúdo possa ajudar vocês que estão na linha de frente da atuação e que passam por muitas situações difíceis muitas vezes sem ter o devido reconhecimento.

Minha tentativa de contribuir é o meu agradecimento, meu muito obrigado.

 

Quem gostou pode curtir o vídeo, se inscrever no canal, ativar as notificações e compartilhar.

Eu agradeço novamente.

 

A intenção dessas dicas e reflexões é buscar um mínimo de estabilidade emocional para conseguir seguir adiante.

 

No sentido existencial, a ansiedade é se lançar para o futuro tendo o medo como fundamento.

Com ou sem medo, o futuro virá e muito importante que a gente se prepare para ele da melhor forma possível.

Ter medo não significa ser covarde.

Ter coragem é fazer as coisas mesmo sentindo medo, mas fazer.

 

Boa jornada, grande abraço e até a próxima!

Torres Psicologia